domingo, 16 de junho de 2013

Metro 2033 - Dmitry Glukhovsky


Depois de um bom tempo, outro livro de ficção científica no blog. É um gênero que gosto muito, especialmente nesse caso em que a história deriva por outros campos, como geopolítica, antropologia, isso tudo sem deixar de manter o interesse o tempo todo.

A história se passa em 2033 (ah vá), 20 anos depois de uma guerra nuclear que dizimou a Terra e tornou sua superfície inabitável para os seres humanos, não apenas pela radiação, mas também porque, após 2 décadas, os animais (e pessoas) que foram expostos à radiação sofrem mutações, tornando-se seres imprevisíveis. Em Moscou, onde a história se passa, alguns milhares de pessoas conseguiram se refugiar no Metrô (não diga), já que por conta da Guerra Fria, o Metrô de Moscou (um dos mais extensos do mundo, diga-se) foi transformado em um sistema de "bunkers" anti-nucleares.

O personagem principal do livro é Artyom, um jovem de 20 e poucos anos que nasceu na superfície, mas não tem lembranças dessa época. Ficou órfão em um ataque de ratos à sua estação, mas foi salvo por um soldado, a quem trata por padrasto. Vive em VDNKh, uma estação relativamente remota e próspera do Metrô, mas acaba em uma missão para procurar ajuda, depois que um amigo de seu padrasto desaparece tentando atacar uma nova raça de humanos mutantes que vem gerando problemas em sua estação.


É no momento em que Artyom embarca em sua missão que o verdadeiro "vilão" do livro aparece: o próprio metrô e seus habitantes. Essa para mim é a principal sacada do autor, gerando uma história muito interessante: após 20 anos, os habitantes do metrô se organizaram como um "microcosmo" do mundo de onde saíram. Assim, as estações passam a ser as "cidades", com seus governos, ideologias, sistemas de governo (ou não-governo), alianças, inimizades... Uma estação com localização estratégica, seja por ser a confluência de várias linhas, seja por permitir algum tipo de cultivo, ou até por estar distante das ameaças externas, acaba tendo poder sobre as outras, por exemplo, e vai montar um sistema de defesa, ataque e influência compatível.

Estações se organizam em "ligas", por afinidade ideológica (existem as ligas comunista, neo-nazista, e uma que replica o sistema de castas da Índia com soldados e brâmanes, guardiões do conhecimento), religiosa (existe inclusive uma corrente que venera o "Grande Verme", que teria criado o "mundo" cavando os túneis onde eles hoje vivem) ou até para se defenderem ou ganharem vantagem sobre as demais. Essa dinâmica de organização social é uma das coisas mais legais do livro (outra é o fato divertido de que o livro ganha muito se for lido com o mapa do metrô aberto ao lado - o que me deu curiosidade de conhecer algumas das estações mais citadas no mundo real).


Portanto, em sua jornada, Artyom acaba encontrando aliados e inimigos inseridos nesse sistema social do metrô. Mas não apenas isso: como resultado do ataque nuclear, algumas coisas não se comportam mais como antes. Assim, ele enfrenta também outras criaturas, perigos mentais, e alguns perigos que o livro explica pouco, propositalmente. A jornada de Artyom acaba sendo mais interessante até pelas coisas e pessoas que ele encontra, conversa e enfrenta do que pelo destino em si. Ao mesmo tempo, ele começa a questionar as convicções que tinha, e até mesmo qual o papel da humanidade: será que não somos mais a espécie dominante? Será que alguma outra criatura, mais adaptada às novas condições, passa a ser o "topo da cadeia"? Estaria o "homo sapiens" à beira da extinção? Mais importante: quais as consequências dos homens terem encarado a nova situação do mesmo jeito que viviam no mundo "antigo"? Isso é da natureza humana ou pode ser mudado?


Como vocês podem ver, entrei muito pouco na história em si, falando apenas do contexto e do pano de fundo no qual ela se passa. Isso é proposital: o que torna esse livro diferente da ficção científica comum são justamente esses toques de antropologia, organização social, darwinismo, teologia e outros conceitos muito mais profundos do que a história parece oferecer à primeira vista. Essa é a grande joia do livro (que mais tarde foi transformado em video-game, de onde tirei as imagens desse post, e já tem uma continuação, Metro 2034, ainda não traduzida para o inglês), embora seu desfecho seja bastante satisfatório, especialmente quando seguido de um novo "epílogo" escrito pelo autor, que completa e explica muitos pontos deixados em aberto, tornando toda a história ainda mais instigante e mais poderosos alguns dos pontos levantados sobre a dinâmica dessa nova "humanidade".

Já deu para notar que recomendo muito esse livro. É um tanto longo, difícil em alguns pontos, e os nomes russos (especialmente das estações) não ajudam muito. Mas vale a pena, especialmente para quem conheceu o video-game e quer saber de onde vem esse universo. Mas mesmo sem conhecê-lo (assim como eu), é uma obra que nos faz pensar muito sobre a natureza humana e sobre como nos comportaríamos sob condições extremas. Isso é o que mais empolga e nos faz querer continuar. Sempre é bom imaginar o que nos faz humanos, com virtudes e falhas...


Avaliação: ***** (5/5)

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